quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O descaso com a vida em meio ao desfile de Congo


Após dois anos voltei a São Sebastião do Paraíso. Em 2013 morei por nove meses por aqui, trabalhando na TV Paraíso e na Rádio Ouro Verde. Fiz alguns amigos, alguns inimigos, mas voltei esse ano como turista, para acompanhar minha namorada que tem família na cidade e é congadeira de primeira.

E claro que estou acompanhando tudo o que acontece na festa mais tradicional de São Sebastião do Paraíso. Não sou um especialista em congo, então não vou falar dos desfiles, mas do que acontece envolta, da estrutura e dos detalhes que podem melhorar ainda mais a festa.

Descaso público

Nessa terça presenciei uma congadeira do terno Anjos de São Benedito passando mal na esquina da Pimenta de Pádua com a Padre Benati, ou seja, nas esquinas da lojas Edmil e Pernambucanas. Fiquei 15 minutos observando a cena. Quando cheguei havia aquela famosa “rodinha” de curiosos, mas me chamou a atenção a presença de um Policial Militar (que depois descobri que chama Felipe, mas conto isso daqui a pouco).

Como havia um PM, fiquei tranquilo e observando a distância, até para não aglomerar em cima da mulher que parecia estar passando por uma convulsão. Mas de repende, minha cunhada sai correndo para chamar uma ambulância, pois já fazia 15 minutos que a mulher precisava de atendimento e ninguém aparecia. Minha namorada, que trabalha na área da saúde, ajudou uma senhora que estava tentando socorrer a enferma, enquanto o Policial só observava. Após algum tempo, minha cunhada voltou dizendo que a ambulância estava fechada, mas logo após chegou uma enfermeira, que observou a situação e saiu correndo para encontrar o motorista da ambulância. E o PM só observando.

Vale dizer que existe apenas uma ambulância disponível para atender as pessoas que estão envolvidas nas congadas, (congadeiros e público) e ela fica localizada na Rua Soares Neto, em frente a Lojas Cem. Parece ser imprudente deixar apenas uma ambulância para tanta gente, principalmente pensando que a concentração de pessoas (principalmente de congadeiros) está na parte de cima da Pimenta de Pádua, próximo ao Campos do Amaral.

Voltando ao atendimento da senhora, a enfermeira voltou correndo para ajudar no atendimento e a ambulância chegou poucos minutos depois. Quando a enfermeira voltou, apareceram outros Policiais Militares e também membros da Guarda Civil Municipal. Mas ninguém encostou a mão na enferma, o que chama a atenção, porque a Polícia Militar concede treinamento de primeiro socorros. O soldado Felipe não poderia colocar a senhora no carro e leva-la ao pronto socorro, mas poderia ter ajudado no primeiro atendimento, até a chegada da ambulância, mas ele não o fez.

Como disse presenciei 15 minutos, até a conclusão do caso, mas de acordo com pessoas que desfilaram com a moça, houve uma demora de 30 minutos, entre ele começar a passar mal e a chegada da ambulância. Um tempo muito longo, ela poderia ter morrido por conta desse descaso.

Policial não queria ser identificado

Falei que falaria sobre o soldado Felipe mais a frente porque só depois que a ambulância foi embora, parei para prestar atenção nele. Fui ajudar na saída da ambulância, que deixou a Rua Padre Benati de ré. O policial estava parado em frente à loja Edmil como se nada estivesse acontecendo, mas com um detalhe. Sua mão direita estava em cima do seu nome. Tive que ir perguntar o nome dele, que me respondeu rude “porque você quer saber?”. Tive que explicar que sou um cidadão e tenho o direito de saber o nome dele, que é por isso que o fardamento da PM tem o nome dos policiais em local visível e que ele estava tampando o nome. Depois de quase dois minutos de um diálogo duro, porém cordial, ele tirou a mão de cima do nome e eu pude identifica-lo.

Falta de água para os Congadeiros

Em vários eventos importantes em São Sebastião do Paraíso existem os “Carros da Copasa”, carros que trazem água potável para as pessoas que estão nesses eventos. Porém na maior e mais tradicional festa da cidade, isso não existe. Nem no dia 26, quando há a procissão durante o dia (poderia haver um carro da Copasa na Igreja Nossa Senhora do Rosário, por exemplo) e durante os desfiles poderia haver um carro ao menos na concentração dos ternos, próximo do Campos do Amaral. O ideal seria ter um também ao fim dos desfiles, perto da Rua Soares Neto.

Pelo que fiquei sabendo essa solicitação já foi feita diversas vezes, mas nunca foi atendida, por quê?

Arquibancadas Mal Cobertas


Outro ponto bem discutível e que “salta aos olhos” é o fato de boa parte das arquibancadas não serem totalmente cobertas. A cobertura deixa a desejar e como está chovendo desde sábado você perde boa parte da arquibancada, já que a ideia das pessoas é fugir da chuva.

As arquibancadas que ficam protegidas da chuva tem outro problema que tem a ver com as pessoas que usam, porque elas pisam na parte em que outras pessoas poderiam sentar, a arquibancada fica molhada e assim muitas pessoas optam por ficar de pé para não sujar as roupas.

Localização dos banheiros químicos


Existe sim a necessidade de ter banheiros químicos perto da festa, devido a grande quantidade de pessoas que circulam no Centro durante os desfiles (quem foi assistir aos desfiles no domingo, quando choveu apenas no início da madrugada, viu a real proporção do que é o Congo em São Sebastião do Paraíso), mas a localização desses banheiros, atrás da arquibancada ficou muito ruim. O mau cheiro impregna as arquibancadas. È desconfortável e desagradável assistir aos desfiles com o forte cheiro de urina que vem dos banheiros químicos.

Talvez as autoridades não tenham percebido isso porque não há banheiros químicos atrás do palanque, mas quem está nas arquibancadas percebeu e reclamou, com razão.

Área de concentração

Todo mundo sabe o local em que os ternos se concentram, mas nenhuma melhoria é feita, já falamos sobre a necessidade de ter um carro da Copasa no local, mas outra recomendação não atendida foi a de se colocar uma lona, uma tenda nessa região para que os congadeiros não precisem aguardar o seu desfile na chuva, o que faz todo sentido.

Desfilar na chuva, com adrenalina a mil, corpo quente, dançando e cantando é uma situação. Ficar parado, esperando a sua vez, é outra muito pior. Seria oferecer o mínimo para os astros da festa. É muito bonito dizer que o congadeiros e moçambiqueiros levam o nome de Paraíso e tal, mas será que as autoridades dão a devida importância aos “artistas”?

Coisas que me chamaram a atenção

Muitas coisas me chamaram a atenção desde sábado. Volto a dizer que acompanhei minha namorada em vários momentos, fui ao barracão todos os dias e fui até solicitado para segurar o guarda-chuva do sanfoneiro (missão que muito me honra, pois descobri que quem fazia isso era a “Madrinha” Lucimar, que faleceu em 19 de junho). Não sou expert em congo e Moçambique, digo com tranquilidade que não me agrada o todo, mas existem coisas muito legais, muito incríveis, como a dedicação das pessoas, que tem o congo como parte de suas vidas, como parte da sua razão de viver. Infelizmente percebe-se que esse percentual está diminuindo.

Ø  Ir ao barracão, presenciar a dedicação, o empenho a entrega das pessoas me marcou muito, porque é difícil manter um terno, é difícil parar a vida para dedicar-se de corpo e alma a sua fé;

Ø  No sábado, dia 26 ao chegar à Igreja Nossa Senhora do Rosário, os ternos entram na Igreja para saldar os santos. Dos 15 ternos de congo e Moçambique, 14 entraram. Um escolheu não entrar, nãos sei por quê. Ninguém me contou, eu estava lá;

Ø  Um dos ternos mais imponentes e importantes da cidade, que costuma empolgar a torcida fez um desfile muito ruim na segunda. Erros de ritmo, capitão cantando fora de tempo. Isso eu vi da arquibancada.

Ø  A TV Sudoeste está transmitindo os desfiles ao vivo. Muito legal. Mas no domingo, a reprise começou às 5h da manhã. Segunda, terça e quarta a reprise começou às 7h da manhã. Lembrando que os desfiles acabam por volta das 3h. Após quatro dias a TV descobriu que a reprise estava começando muito cedo e os congadeiros não estavam conseguindo assistir. Por isso a reprise do último dia, que vai ao ar nessa quinta, dia 31, vai começar as 10h30. Os artistas agradecem;

Ø  Vi uma capitã de terno desfilar de salto fino, em um dia de chuva;


Ø  Um capitão de terno disse ao fim do desfile, nos microfones de Vicente Irmão e Donizete Silva que após começar no congo desfilando na última fila, se tornar capitão e Rei do Congo ele chegou ao mais alto posto da festa. Ser presidente da Associação de Folclore?!?!?!?!??!?!

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